O ESTILO GERAL DE EXPRESSÕES OU MODOS DE DIZER DO ESPERANTO COMO SUBLINGUAGEM
DE COMUNICAÇÃO
Madragoa
"Tiu, kiu eldonas verkon en Esperanto, ne koniĝinte antaŭe fundamente
kun la spirito kaj la modela stilo de tiu ĉi lingvo, alportas al nia afero ne
utilon, sed rektan malutilon.
Ĉiuj artikoloj en la Fundamenta Krestomatio estas aŭ skribitaj de mi mem, aŭ se ili estas skribitaj
de aliaj personoj ili estas korektitaj de mi en tia grado, ke la stilo en ili
ne deflankiĝu de la stilo, kiun mi mem uzas." - L. L. Zamenhof, em "FUNDAMENTA KRESTOMATIO"
O estilo de expressões do Esperanto é também uma linguagem, ou sublinguagem,
universal em si. Há um modelário básico de tal estilo espraiado na textualística
de L. L. Zamenhof, o próprio iniciador da Língua Internacional e também seu usuário
mais profícuo, como produtor textual por cerca de trinta anos, bem como também no
livro “Fundamenta Krestomatio”, coletânea de textos modelos, escritos ou revisados também pelo
mesmo intelectual polonês. A esses textos-modelos devemos todos nós, produtores
textuais esperantistas contemporâneos e de todas as épocas, tentar sempre seguir
imitantemente, não só quanto à forma de construção das palavras, mas também para
perpetuar o estilo de dizer as coisas, instaurada nos primeiros anos. E tal estilo,
do que podemos chamar do Esperanto puro, é simples, didático, claro e seguro, até
mesmo no que se refere à pontuação. Convencionar o uso desse estilo básico por todos
os produtores textuais em Esperanto, em nível mundial, contribui sobremaneira para
sua maior compreensibilidade no seio de todas as formações sociais de usuários da
língua, especialmente entre os iniciantes (independentemente também das palavras
e suas técnicas de formação). É uma boa prestação de serviço em favor da causa da
Língua Internacional.
O bom é que o próprio estilo do idioma Esperanto já é em si suficientemente
amplo e intrinsecamente elástico, já enriquecido, na origem, de universais
lingüísticos de toda parte do globo. Valeu-se do eterno nomadismo das
expressões linguísticas, em seus enclaves e migrações por toda parte. Zamenhof fisgou
contribuições de expressões comunicacionais e lingüísticas dos idiomas mais internacionalizados
em sua época. [Para nós, lusofalantes, é uma beleza. Como o português já uma língua misturada
por várias influências estrada do tempo afora, há oitocentos anos, fica fácil para
nós produzirmos de acordo com o estilo básico do Esperanto. Nada lá é tão estranho
para nós.] É um esforço que vale a pena, imitar e eternizar o estilo-linguagem dos
primeiros grandes mestres, nas fontes textuais referidas (Z e FK). Não deve sacrificar
nem anular exatamente os estilos pessoais e nacionais. É só mais uma questão de
ajuste fino e de divulgação das idéias escritas de forma mais universalmente compreensível,
contribuindo para a necessária ‘invariação lingüística’ (inclusive quanto ao estilo),
o que é a razão de ser do Esperanto.
As notícias sobre os fatos do mundo estão globalizadas e instantanizadas,
via novos meios de comunicação internetizados. Os sentimentos, pensamentos, gestos
e expressões faciais da vida humana, com suas idéias e ideais, são as mesmas entre
todas as formações sociais do mundo, camufladas por detrás das línguas, culturas
e estilos próprios e particulares. O Esperanto está aí, à disposição de toda a humanidade,
como um koiné idiomático universal, com um estilo próprio, mas ao mesmo tempo familiar
e facilmente ajustável e assimilável por todos os seus usuários mundo afora.
Ademais, com a sua estilística por si só expandida e com seu vastíssimo estoque
de palavras e de recursos de criação de palavras, o Esperanto, mais do que
qualquer língua nacional, tem estoque de estilo e de palavras já prontas para
reproduzir exatamente tudo o que se passa em qualquer parte do mundo.
O que incomoda muitos produtores textuais cultos e criativos é
que eles não aceitam se submeter ao estilo fundamental (que é simples).
Vaidades. Querem inovar. Acham chique demonstrar um certo desdém ao desprezar
formas de pontuação consagradas etc. São criativos e estilosos. É inevitável. O
ideal, contudo, seria criar, estilizar, mas dentro da natural elasticidade do
estilo fundamental.
É, certo, entretanto, que o próprio estilo das fontes iniciais
(Z e FK) podem e devem se expandir, para atender às novas necessidades
expressionais, mas sem se desnaturar. Nem tudo os primeiros clássicos previram
em nível de estilo de expressão, da mesma forma como não previram todas as
palavras da língua. Mas tanto as novas palavras quanto as novas formas de dizer
as coisas podem manter perfeita semelhança ou proximidade com as formas
pioneiras. Em muitas passagens, Porto Carreiro Neto imitava Zamenhof melhor do
que Zamenhof mesmo. Igualmente, Kabe, Edmond Privat e Claude Piron, dentre
muitos outros do passado e do presente. As fontes textuais primevas ainda
continuam sendo escritas, em nível de formação de palavras e de estilo, por
outros autores contemporâneos, fiéis aos princípios.
Enfim, a uniformidade de estilo
fundamental do Esperanto, ainda que não exatamente engessado e não propriamente sacrificial, apenas responde a
uma necessidade de código. Código de comunicação global. Simples.
Um comentário:
É fato patente, que o E-o precisa retornar à sua simplicidade original, recomendada e exemplificada pelo seu criador L.L.Z. Assim recomenda também, e exemplifica, o grande escritor Claude Piron, ao dizer que devemos preferir, entre duas maneiras de dizer algo em E-o, sempre a maneira mais simples, pois assim muito menor será o risco de não ser compreendido por estrangeiros, ou ser compreendido de maneira diferente. É fundamental, também, devido à própria estrutura do E-o, que os que pretendem abandonar a pecha de "eternos iniciantes", que levem a sério o estudo da gramática, tanto do E-o quanto da língua nacional, que estudem com devoção os institutos da análise sintática, sobretudo o predicativo do sujeito e o predicativo do objeto direto, para assim acertar o acusativo..., que estudem, com devoção, as conjunções e preposições, para assim acertar o nominativo..., que estudem com devoção os advérbios originais, os pronomes relativos, indefinidos, demonstrativos, para assim acertar os correlativos... Gramática é dolorosa no princípio, mas compensa nos resultados, e compensa muito!
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