quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

AŬSKULTI KLASIKAN MUZIKON VIGLIGAS CERBO-RILATAJN GENOJN // ESCUTAR MÚSICA CLÁSSICA ATIVA GENES ASSOCIADOS AO CÉREBRO

 



Escutar música clássica com frequência ativa os genes associados à função cerebral e ajuda a prevenir as doenças neurodegenerativas, segundo um estudo divulgado por cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

Até agora os especialistas sabiam que escutar música representa uma complexa função cognitiva do cérebro que provoca diversas mudanças neurais e fisiológicas, mas pouco havia sido estudado sobre os efeitos em nível molecular.

Os investigadores queriam estabelecer as alterações genéticas ocasionadas pela música clássica. Para isso, foi examinado o sangue de um grupo de 48 pessoas antes e depois de escutarem o Concerto para Violino número 3, de Mozart.

Dirigido pelo professor Chakravarthi Kanduri, ele concluiu que escutar música clássica com frequência aumenta a atividade dos genes envolvidos na secreção de dopamina, na neurotransmissão sináptica, na aprendizagem e na memória.

Além disso, a música contribui para tornar menos ativos os genes envolvidos na degeneração do cérebro e do sistema imunológico, o que reduz o risco de contrair doenças neurodegenerativas como o Mal de Parkinson ou a demência senil, segundo os cientistas.

"Os efeitos genéticos foram identificados apenas nos participantes que são muito fãs de música ou músicos profissionais, o que ressalta a importância que a música é algo muito familiar", explicaram os autores do estudo.

 

Relação pássaro-homem

Curiosamente, vários dos genes analisados que se ativam ao escutar música também estão presentes nos pássaros cantores e são os responsáveis pela capacidade dessas aves de aprender a cantar.

Esse fato, segundo os cientistas, sugere que exista  "um cenário evolutivo comum na percepção dos sons entre os pássaros cantores e os humanos".

Segundo eles, os resultados dessa pesquisa proporciona uma nova informação sobre a origem molecular da percepção musical e a evolução, e abrem portas para novas descobertas sobre mecanismos moleculares subjacentes na musicoterapia.

 

Laŭ esploro diskonigita de sciencistoj el la Universitato de Helsinko en Finnlando, la regula aŭskultado de klasika muziko vigligas la genojn rilatajn al la cerba funkciado kaj helpas preventi la neŭrodegenerajn malsanojn.

Ĝis nun la fakuloj sciis, ke muzika aŭskultado reprezentas kompleksan konecan funkcion de la cerbo, kiu kaŭzas multajn neŭrajn kaj fiziologiajn ŝanĝiĝojn, tamen malmulte estis esplorite pri ties efikoj je molekula nivelo.

La esplorskipo celis identigi la genajn modifiĝojn okazigitajn de klasika muziko. Por tio, ili ekzamenis la sangon de grupo da 48 personoj antaŭ kaj post la aŭskultado de la Tria Konĉerto por Violono de Mozarto.

Gvidate de profesoro Chakravarthi Kanduri, la esploro konkludis, ke la regula aŭskultado de klasika muziko plialtigas la aktivecon de genoj implicitaj en la sekreciado de dopamino, en la sinapsa neŭrotransmisio, en la lernado kaj en la memoro.

Krome, tia muziko kontribuas por la malvigligo de genoj implicitaj en la degenero de la cerbo kaj de la imuna sistemo, kio malaltigas la riskon akiri neŭrodegenerajn malsanojn, kiel la parkinsona malsano kaj la maljunula demenco, laŭ la sciencistoj.

"La genaj efikoj estis identigitaj nur ĉe la partoprenantoj, kiuj estas fervoraj muzikŝatantoj aŭ profesiaj muzikistoj, kio emfazas la gravecon, kiam la muziko estas io tre familiara" -  klarigis la aŭtoroj de la esploro.

 

Rilato birdo-homo

Kurioze, pluraj el la analizitaj genoj, kiuj vigliĝas dum muzika aŭskultado, ankaŭ rimarkeblas ĉe kantbirdoj kaj respondecas pri la kapablo de tiaj birdoj lerni kanti.

Tiu fakto, laŭ la sciencistoj, sugestas la ekziston de "komuna evoluiga kondiĉo en la percepto de sonoj inter kantbirdoj kaj homoj".

Laŭ ili, la rezultoj de tiu ĉi esploro provizas novan informon pri la molekula origino de muzika percepto kaj evoluo kaj malfermas pordojn al novaj malkovroj pri la subkuŝantaj molekulaj meĥanismoj en la muzikoterapio.

Fonto: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2015/03/escutar-musica-classica-ativa-genes-associados-ao-cerebro-diz-estudo.html#:~:text=Dirigido%20pelo%20professor%20Chakravarthi%20Kanduri,na%20aprendizagem%20e%20na%20mem%C3%B3ria.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

APARTENI - KRONIKO DE CLARICE LISPECTOR // PERTENCER - CRÔNICA DE CLARICE LISPECTOR

  


Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.

Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.

Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.

Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.

No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.

Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.

Clarice Lispector 

 

Aparteni

Amiko mia, kuracisto, certigis al mi, ke ekde la lulilo la infano sentas la medion, la infano volas: en ĝi la homo, eĉ en la lulilo mem, jam komenciĝis.

Mi certas, ke en la lulilo mia unua deziro estis aparteni. Tamen, pro kialoj, kiuj ĉi tie ne gravas, mi iel devis senti, ke mi apartenas al nenio kaj al neniu. Mi naskiĝis senkoste.

Se en la lulilo mi spertis tian homan malsaton, ĝi daŭre akompanas min tra la vivo, kvazaŭ sorto, tiel ke mia koro kunpremiĝas pro envio kaj sopiro tiam, kiam mi vidas monaĥinon: ŝi apartenas al Dio.

Ĝuste ĉar estas tiom forta en mi la malsato sin doni al io aŭ al iu, mi fariĝis tre timema: mi timas malkaŝi, kiom mi bezonas kaj kiel malriĉa mi estas. Jes, mi estas tre malriĉa. Mi havas nur unu korpon kaj unu animon. Kaj mi bezonas pli ol tion.

Kun la tempo, precipe dum la lastaj jaroj, mi perdis la manieron esti homo. Mi ne plu scias, kiel oni estas tio. Kaj tute nova speco de "soleco de ne-aparteno" komencis invadi min, kiel hederoj sur muro.

Se mia plej malnova deziro estas aparteni, kial do mi neniam membras en kluboj aŭ asocioj? Efektive ne estas tio, kion mi nomas aparteno. Kion mi volus, sed ne povas, tio estas, ekzemple, ke ĉion bonan, kiu venus el mi, mi povus doni al tio, al kio mi apartenas. Eĉ miaj ĝojoj: kiel solecaj ili fojfoje estas! Kaj soleca ĝojo povas fariĝi patosa. Estas kiel tio, teni donacon tute volvitan en ornamita donacpapero en la manoj - sed havi neniun al kiu diri: jen, ĝi estas via, malvolvu ĝin! Ne volante min vidi en patosaj situacioj kaj ankaŭ, pro ia sindeteno, evitante la tragikan tonon, mi malofte volvas miajn sentojn en donacpaperon.

Aparteno ne venas nur el tio, esti malforta kaj bezoni unuiĝi al io aŭ al iu pli forta. Ofte la intensa volo aparteni venas en min el mia propra forto - mi volas aparteni, por ke mia forto ne estu senutila, sed fortigu personon aŭ aferon.

Mi preskaŭ sukcesas min vidi en la lulilo, preskaŭ sukcesas reprodukti en mi la malklaran, sed urĝan senton pri la bezono aparteni. Pro kialoj, kiujn nek mia patrino nek mia patro povis regi, mi naskiĝis kaj restis nur ĉi tia: naskita.

Tamen mi estis preparita por esti donita al la lumo tiel bele. Mia patrino jam estis malsana, kaj, pro sufiĉe disvastigita superstiĉo, oni kredis, ke naski infanon kuracos virinon de malsano. Do mi estis intence kreita: kun amo kaj espero. Okazis nur, ke mi ne kuracis mian patrinon. Kaj mi sentas ĝis hodiaŭ tiun ŝarĝon de kulpo: oni kreis min por difinita misio, sed tamen mi fiaskis. Estis kvazaŭ oni kalkulus je mi en la tranĉeoj de milito, sed mi dizertus. Mi scias, ke miaj gepatroj pardonis min pro tio, ke mi naskiĝis vane kaj perfidis ilian grandan esperon.

Tamen mi, mi ne pardonas min. Mi volus, ke simple estus okazinta miraklo: ke mi naskiĝus kaj kuracus mian patrinon. Tiele, jes: mi apartenus al mia patro kaj al mia patrino. Mi eĉ ne povis konfidi al iu tiun specon de soleco de ne-aparteno, ĉar, kiel dizertinto, mi havis la sekreton de la fuĝo, kiu, pro honto, ne devus esti konata.

La vivo igis min de tempo al tempo aparteni, kvazaŭ por doni al mi la mezuron de tio, kion mi perdus ne apartenante. Kaj tiam mi eksciis: aparteni estas vivi. Mi spertis tion kun la soifo de tiu, kiu estas en la dezerto kaj avide trinkas la lastajn glutojn da akvo el ladboteleto. Kaj poste la soifo revenas, kaj jen estas en la dezerto mem, kie mi marŝas.

Clarice Lispector